Moça de Locação

Todos os dias venho fumar a varanda e, religiosamente, encontra-a posta na esquina da rua 42, onde vivo há 6 anos. É alta, morena, sempre usando um pervertido batom vermelho e um curtíssimo vestido negro. Os postes faíscam; a luz falha; o esgoto fétido corre a céu aberto por onde rastejam as ratazanas; a penumbra assoma a vista; somente algumas poucas janelas iluminadas; alguns carros passam; outros param e os seus motoristas assanhados trocam carícias com a dama da noite, mas logo, põem-se a marchar. Ela, então, permanece hirta, como exposta numa vitrina, sobre o seu finíssimo e sensual salto alto até que algum condutor pare e finalmente fechem negócio. Após barganhado os valores, ela, vendendo a sua alma, entrega-se ao seu amante. Depois de lambuzar-se até ficar saciado, deixa-a no mesmo local, como quem se livra de um brinquedo saturado, e lá, ela continua o mesmo asqueroso serviço. Chegada a alva, finda-se o seu dia.