Passeio Trasmontano — Capítulo 1

03-03-2023
Como o autor a fim de levar um amigo à casa na Régua inicia uma viagem com um outro companheiro sextanário por tras-os-montes. 
Devido às férias carnavalescas desta semana, tencionava viajar a alguma capital de distrito qualquer de Portugal e lá passar o dia todo. Entretanto, de última hora o Seu Manuel Meão, uma espécie de avô postiço que eu tenho, resolveu levar-me para conhecer melhor tras-os-montes, porquanto o mesmo já foi entregador de peixe naquelas zonas e conhece-as como a palma da sua mão. Íamos, a priori, levar o seu Dr. Rodrigo Alvim, grande amigo nosso, até à sua casa na Régua. Eu, que não conhecia a zona e já há muito estava desejoso por conhecê-la fiquei contentíssimo! Afinal, estava juntando a fome com a vontade de comer.
Vale ressaltar que o chamo doutor, não por ser médico ou por ter Doutorado (Doutoramento), mas, porque, tendo estudado Direito no Brasil, nunca exerceu o ofício em nenhuma das áreas possíveis, sendo assim, vi-me obrigado a dar alguma utilidade àqueles inúteis e dolorosos 5 anos na universidade no RJ, ao menos chamando-o por doutor.
Contextualizado isto, fomos no carro do meu pai vendo a bela vista que progressivamente tornava-se mais serrana e o ar mais puro. Enquanto isso, escutávamos pacientemente e com sofreguidão as sábias histórias do Seu Manuel quando era entregador de peixes.
A vista provinciana, as casas espalhadas pelos outeiros, as quintas divididas por pequenos cercados de pedras, as estradas sinuosas, o cheiro da comida caseira: Tudo aquilo que torna o homem mais rijo, forte, corado e sadio! Via-me cada vez menos jacíntico, lembrava-me da figura de Amaro, que,  após longo exílio sendo pároco no interior, se tornara mais rijo, forte, trigueiro.
Não posso negar, há algo em mim de bucólico e virgiliano que ficava comovido, embasbacado e animado com aquela vista.

 Na Régua, cidade pequena e aconchegante — cruzamo-la de ponta à ponta em menos de 10 minutos—, fiquei deslumbrado com a aquelas pequenas casinhas em meio aos montes verdejantes e sinuosos e, sobretudo, com o Douro surgia muito mais imperioso e verdejante do que na turística Foz. A cidade acolhedora, linda e histórica inspirou-me com aquele clima provinciano. Infelizmente, a serração assomava os cumes e as vinícolas; o sol surgia sem-vergonha e singelo dentre as grossas nuvens no céu que ameaçava jorrar torrentes d'água.

deste local, vale contar-vos um causo interessante e, no mínimo, curioso. Quando saíamos, eu e o Seu Manuel, do município, vimos uma barraquinha, onde se encontrava uma velha trasmontana a vender os famosos rebusçados da régua e alguns bolos. O Seu Manuel não me deixou ir sem antes comprar aquele tão bendito doce. Desci e fui ter com a senhora. A priori, fez algumas caretas como quem não entende nada e perguntou-me se falava português, respondi afirmativamente, estranhando a pergunta intrigante: “Sim, falo!”. A mulher exclamou, surpresa, perguntando-me se era estrangeiro, não como se perguntasse que era brasileiro, mas sim, de algum país não lusófono. Tentei pedir-lhe uns doces e um bolo, mas a senhora não entendeu. Então, chamei o Sr. Manuel, não só para falar com ela, mas também, para escolher, com toda aquela sua experiência de sextanário, os melhores lanchinhos artesanais. Ademais, a senhorinha, na sua ignorância, pensou que o Seu Manuel era meu avô! Deve ter pensado que era algum lusodescendente que vinha visitar os familiares, neste caso o avô, no interior nortenho.
Matosinhos - Porto
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