Neo Atlas

22-05-2023

O sol pesa-me. As costas afundam. Difícil carregar o mundo sobre o dorso. Os grilhões doem-me; apertam-me as magras mãos. O peso do mundo arrebenta-me as ilhargas. De tanto carregá-lo tenho já o espinhaço rijo e largo. Não entendo bem o que fiz para estar nessa situação, mas bem sei que já estou cansado. Penso muito, o que acontecerá quando o soltar? Quando já minhas pernas recearem e já não o conseguir carregar? Será que alguém o vai apanhar ou ele ficará ali, jogado sobre o caos e o vazio que era no princípio de todas as coisas? Não entendo.

Estou cansado de carregar o globo. Burros carregam menos fardo, e ao fim recebem bom pasto e grosso feno. Já eu não, carrego o mundo e nada mais recebo. Largaram-no aqui e eu sem nada. Sem sustância, no vazio, creio que já superei as expectativas. Talvez, ainda tombe glorioso, cair depois de tanto carregar-te, orbe maciço.

Eis a hora, hora de finalmente desabar.

Soltei-o, sinto tudo a cair. A água verte. O globo tomba. Finalmente estirado. Posso ter meu merecido descanso.

Matosinhos - Porto
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