Fatalismo Sebastianista

10-07-2023

Sempre pensei que eu era uma espécie rara, que pendia ora para um idealismo espiritualista de D. Quixote, ora para um realismo materialista de Sancho Pança. Contudo, recentemente descobri que, na verdade, estou mais para um pessimista sebastianista, mas (não o pessimismo de Machado ou Schopenhauer, muito menos o sebastianismo de Pessoa): uma mistura de Hardy (da animação Lippy e Hardy da década de 60) com o Telmo do Frei Luís de Sousa.
Noto, porém, que este não é um simples defeito meu! Mas sim, uma espécie de patologia luso-brasileira. 
No Brasil, país onde todos são coitados, onde é normal ser fracassado: “Sucesso […] é a pior das ofensas possíveis”, já dizia Tom Jobim. O logro alheio avulta diretamente a  miséria dos fracassados. Não é necessário muito, basta que alguém na sua rua compre um carro um pouco melhor que, logo, toda a vizinhança começa a especular se foi por meio da prostituição, do tráfico, da agiotagem e, quando não é possível imputar-lhe crime ou desonestidade acusam-no perfidiamente de “sortudo”. 
Quantas pessoas fracassadas não conheces na tua família? Na tua casa? Na tua rua? Pois, bem!
Vejo, como principal consequência dessa doença, três sintomas: 1) frustração por não conquistar os seus sonhos; 2) culpabilização por não o terem ajudado, tentando causar-lhes, assim, remorso e tristeza; 3) ódio genuíno a todos aqueles que, não tendo o mesmo espírito, conquistaram aquilo que queriam com maior ou menor êxito.
Simples e barato é o remédio: otimismo. Uma boa dosagem três vezes ao dia, somada de uma farta comunhão com D-us, boa alimentação, exercícios físicos, hidratação e constante exposição à luz solar, já bastam para curar esta nódoa tão corrosiva a longo prazo.
Agora, falando da Ocidental Praia Lusitana, percebo a expectativa sebastianista enraizada na cultura e na mentalidade portuguesa (que, por consequência, também está na brasileira em maior ou menor proporção). A espera constante por um salvador externo que venha e nos salve de todos os nossos males. Força imobilizadora que nos impede de sermos pro ativos e lutarmos com as nossas próprias perninhas pelos nossos sonhos! Tanto está enraizada que Frei Luís de Sousa foi escrito! 
Sorte da tribo lusitana, pois D-us, em sua infinita misericórdia, enviou o Super Camões para salvá-los e dar-lhes uma nova chance! Eis que Fernando Pessoa escreve Mensagem! Apregoando, qual João Batista bradava pelo deserto, o que eu chamo de Novo Sebastianismo! “Minha loucura, outros que me a tomem!”.
Sejais o D. Sebastião das vossas próprias vidas! Tenhais a ambição e a força sebastianista de buscarem “Grandeza qual a Sorte não dá”. Não espereis pelos vossos pais, nem colegas, nem instituição, muito menos pelo Estado! Agi vós e lutai pela vossa vitória!

Matosinhos - Porto
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