Estas Últimas Horas

22-01-2023
Estas últimas horas do dia são sempre as mais cruéis. Talvez, devido ao ócio que vem, pois, todas as tarefas já foram realizadas. Então, percebo que faltam alguns minutos para que se consuma mais um dia e, finalmente, eu repouse o meu pesado cadáver sobre o leito e, lá, quem sabe, eu não viva algum sonho alegre e verosímil.
Entretanto, não o faço sem antes olhar-me no espelho — não em ato de auto-compaixão e melancolia, mas sim, para escovar a cremalheira —vejo-me cada dia mais velho, as olheiras progressivamente mais cavas e escuras, os cabelos rasos e aqueles que ainda insistem em permanecer nessa cabeça cada vez mais brancos e fracos. A cara abatida não esconde nada (Não sei mais o que fazer…).

Deito-me, em seguida, sem dizer a ninguém um “boa noite” (pois, não há para quem dizer). Simplesmente, fecho a porta da alcova, encosto a cabeça sobre o macio travesseiro e durmo, por fim, esperando que nos meus sonhos eu abrace a minha mãe; veja os meus irmãos; dê longas e verdadeiras risadas; converse bobagens com os meus velhos amigos; tenha uma sincera mulher ao meu lado. Contudo, ao acordar, vejo que tudo permanece igual — quando não pior —. 

Às vezes só queria ter roubado o passado na algibeira.
Matosinhos - Porto
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